terça-feira, 29 de julho de 2014

"Morte numa noite de verão" (K. O. Dahl): OPINIÃO!

"Morte numa noite de verão" de K. O. Dahl é o segundo livro da série Detectives de Oslo protagonizada pelos inspectores Frølich e Gunnarstranda. Tendo recebido o Prémio de Melhor Policial Norueguês, a escolha da Porto Editora recaiu sobre a publicação deste segundo livro, não estando ainda o primeiro publicado por cá. Admito que quando vi que este era o segundo livro de uma série fiquei um pouco reticente, pois gosto de ler as séries por ordem e ir acompanhando a evolução das personagens desde o seu início, mas a verdade é que finda esta leitura há que mencionar que o facto de o primeiro livro não estar publicado por cá em nada interfere nesta leitura, visto que não há quaisquer referências ao livro anterior.

Katrine Bratterud é uma jovem ex-toxicodependente que está prestes a terminar o seu programa de reabilitação, que vive um romance e cuja vida parece estar a começar novamente. A felicidade de Katrine é intensa e é nesta fase nova prestes a começar que acontece o inesperado: Katrine é brutalmente assassinada. Katrine tinha um segredo; segredo esse que era a razão da sua renovada felicidade. Ao morrer Katrine levou o segredo consigo. Agora coloca-se uma questão: quem matou Katrine? E porquê?

Em cena entram os inspectores Frølich e Gunnarstranda que ficam responsáveis por este caso e eis que o autor K. O. Dahl leva-nos pelos meandros de um policial profundo e repleto de investigações. Sucedem-se interrogatórios intensos, na tentativa de conhecer quem privou com Katrine na noite da sua morte e nos tempos anteriores. O autor leva a fundo uma caracterização das personagens próximas a Katrine para desvendar o seu assassino.

Por outro lado, estes inspectores não deixam de parte o passado de drogas e de prostituição de Katrine e tentam compreender se a sua morte está relacionada com o seu passado atribulado. É na sequência destas investigações que K. O. Dahl nos dá uma visão vincada sobre as clínicas de reabilitação para toxicodependentes, sobre os seus programas de reabilitação (taxas de sucesso vs. taxas de insucesso) e sobre os seus funcionários, sendo patente um clima de crítica social intenso.

Ao longo da narrativa é inevitável não reparar que, ao contrário de muitos autores nórdicos, K. O. Dahl coloca pouco ênfase na caracterização dos seus inspectores: não ficamos a saber muito sobre as suas vidas e vivências, pelo que se perde um pouco a capacidade de uma ligação a estas personagens. Atendendo a que o enfoque não está nos inspectores, K. O. Dahl debruça-se isso sim sobre a investigação, trazendo até ao leitor informações constantes e por vezes repetitivas, num esquema onde se pretende detectar erros ou contradições nos interrogatórios policiais.

O facto da narrativa estar fortemente centrada na investigação leva a que a acção não se desenvolva a um ritmo frenético, mas em compensação a trama intrincada acaba por prender o leitor às páginas numa ansiedade crescente de perceber as motivações deste crime e quem é responsável pelo mesmo.

Em suma, "Morte numa noite de verão" de K. O. Dahl não se trata de um policial puro, mas sim de um policial mais clássico assente nos interrogatórios para recriar o cenário do crime e descobrir o assassino, ao mesmo tempo que a escrita directa e cativante, com rasgos de diálogos perspicazes, nos leva também para os meandros de um romance marcado por uma vertente social. A exploração das vertentes psicológicas e sociais confere uma riqueza extra a uma trama que se faz de mistério e complexidades que só se conjugam muito próximo de um desfecho final que consegue surpreender o leitor. A revelação da identidade do assassino é inesperada e as suas motivações para este crime têm origens impensáveis.

CLASSIFICAÇÃO: 5. Muito Bom!


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